Téa, a ateia©

“Deuses são coisas frágeis; eles podem ser mortos com uma baforada de ciência ou uma dose de senso comum.” -Chapman Cohen

28/10/2016

Pastores brasileiros usam psicanálise para cativar fiéis evangélicos

Por meio do estudo das teorias de Freud, religiosos tentam aumentar o rebanho e o dízimo


Segundo Doryedson Cintra, professor de psicanálise nos cursos realizados pela Sociedade Contemporânea de Psicanálise (SCOPSI), as religiões evangélicas estão praticando uma psicanálise selvagem, espécie de chantagem terapêutica que ele chama de “comando passivo”. “Os pastores sabem que há algo na vida de cada indivíduo que inspira o medo e o terror. Só não sabem o quê. Com a apologia ao medo, eles incitam os membros a ponto de despertarem um comportamento histriônico, uma espécie de teatralidade muito comum nos casos de possessão”, teoriza. Ele afirma que, na verdade, essas pessoas se encontram psicologicamente abaladas e, inconscientemente, desenvolvem comportamentos que poderiam perfeitamente ser diagnosticados como transtornos histéricos, e não casos de possessão. 
Ainda que as pessoas busquem a religião e a psicanálise para lidar com seus sofrimentos, Wellington Zangari acredita que o ponto de contato entre ambas termina aí: “Cada uma dessas perspectivas oferecem compreensões do ser humano baseadas em modos de obter conhecimento que são, por vezes, antagônicas”. A religião supõe a existência de agentes espirituais intencionais e uma ordenação da realidade que é ligada àqueles agentes. A ciência, por outro lado, não enxerga a realidade a partir de referenciais sobrenaturais.
Segundo ele, ao contrário da religião, a psicanálise encontra a natureza do sofrimento humano no próprio sujeito, em sua subjetividade e dinâmica pessoal. Nada é atribuído a Deus ou a qualquer associação do tipo. Além disso, as formas de lidar com esse sofrimento são distintas: “A religião poderá buscar a solução do sofrimento pela via da salvação divina ou do afastamento do demônio, o que supõe uma ação de tipo sobrenatural ou, ao menos, um contato entre o ser humano e uma instância desse universo transcendente. Na psicanálise, lida-se com o sofrimento justamente colocando o sujeito no centro, na natureza mesma do sofrimento. Ele próprio é o agente último da ação, implicado até o pescoço no sofrimento que sente.”
Matéria original publicada na revista Cult, publicação mensal sobre cultura, artes e ideias. 
Mais aqui: http://operamundi.uol.com.br/conteudo/samuel/37724/pastores+brasileiros+usam+psicanalise+para+cativar+fieis+evangelicos.shtml